Vamos para a cozinha!

Fome é diferente de apetite.

Quem tem apetite quer muito mais que comida. Quem tem apetite tem gosto pela vida e quer tirar o máximo de tudo o que ela tem para oferecer.

Vivemos um momento difícil, em que tudo é banalizado, sem valor e sem graça. Temos muita pressa, pouco tempo e pouca paciência. E o pior, a gente se esqueceu das coisas simples e importantes da vida e, com isso, até mesmo o mais essencial perdeu o gosto.

Estamos apáticos, temos relacionamentos superficiais, não aprofundamos nada. 

Comemos de forma automática, sem respeito ou atenção.

Colocam um monte de veneno na nossa comida e fingimos não ver.

Temos muita fome, mas pouco apetite.

E ter apetite significa não se conformar, não se contentar com nada que seja medíocre, óbvio, banal. E é aí que eu vejo como a comida pode mudar a nossa forma de consumir e viver. Como ir para a cozinha e fazer um simples pão pode te mostrar como isso é natural e grandioso. E depois que você faz o primeiro pão, não consegue mais comprar pão industrializado, que nem cheiro de pão tem!

A indústria quer que a gente acredite que cozinhar é difícil, complicado, trabalhoso, que não temos tempo para cozinhar e que não devemos ou não precisamos nos preocupar com isso. Deixa que eles resolvem essa parte. Mas e o preço que pagamos?

A indústria quer que você abra pacotes ao invés de descascar frutas, que você não perca tempo cozinhando e comendo para poder curtir mais a vida… mas cozinhar e comer são algumas das atividades mais importantes dessa vida que eles dizem que devemos aproveitar. Porque é muito mais lucrativo vender tempero pronto do que alho fresco, vender lasanha congelada do que tomates, farinha e ovos, vender salgadinhos do que batatas.

Mas o alimento pode ser muito mais do que calorias engolidas, e a refeição não se encerra nos minutos em que estamos, de fato, mastigando. A refeição começa na escolha dos alimentos, na matemática do aproveitamento, nos vegetais e frutas que estão mais baratos e acessíveis. Depois, a refeição vai para a cozinha: descascar, cortar, picar, amassar e mexer fazem parte desse ritual, do nosso contato com a comida e com o prazer que ela nos traz. 

Cozinhar promove momentos importantes com você mesmo (é uma atividade meditativa e faz você se conhecer melhor) e com as pessoas com quem você vai compartilhar aquela comida.

Comida feita em casa pode ser muito simples, mas não tem nada de banal: um pão, um iogurte, um molho, uma sopa, uma salada, uma pizza feitos em casa tem um valor inestimável!

Quando você deixa de consumir comida banal, passa a aproveitar o prazer da comida em todas as etapas.

E desbanalizando nossos hábitos, resgatamos os sabores e o tempero da vida. Percebemos que o alimento é vivo e que somos capazes de transformá-lo em comida deliciosa e fresca. Percebemos o valor de um prato feito e compartilhado e percebemos que não precisamos de tantos pacotes para viver.

Então, já que a fome é diferente do apetite, e que apetite é ânimo, intenção, desejo, vontade, eu proponho que a gente vá para a cozinha, porque fazendo uma comida boa, você vai fazer bem também para o seu corpo, sua alma e seu mundo.

Comida banal faz mal e cozinhar é revolucionário.

Por que você come miojo?

. Porque é econômico

Não é. O custo do miojo, por kg, é maior que o de uma massa de boa qualidade.

. Porque é prático e rápido

Tão prático quanto cozinhar um capellini e finalizar com um fio de azeite ou manteiga. 3 minutos de cozimento.

. Porque tem poucas calorias

Não tem. Um pacote de miojo tem mais calorias que um prato de massa de boa qualidade. Mesmo acrescentando um fio de azeite ou meia colher de sopa de manteiga, o valor calórico ainda é menor que o do macarrão instantâneo.

. Porque é gostoso

Não é. Produtos artificiais viciam o paladar com um sabor forte, que não se encontra nos alimentos naturais. Experimente passar um tempo sem consumir industrializados e temperos prontos, você vai ver como o seu paladar vai se adaptar e esses alimentos se tornarão intragáveis.

. Porque deu vontade

Tá certo. Radicalismos não fazem bem. Se você está com vontade, coma um miojo de vez em quando. :)

Mas lembre-se: miojo é um produto altamente processado, cheio de sódio e produtos químicos, como conservantes, espessantes e corantes. Um péssimo hábito, sobretudo para crianças, que ficam com o paladar comprometido e deixam de apreciar os sabores naturais. Um alimento que faz uma promessa falsa de sabor, praticidade e economia, e que, na verdade, não tem qualquer benefício.

o repolho camponês e o amor de mãe

Essa receita vem de longe, não sei bem de onde. Chegou aqui com a minha avó francesa, mas não sei se vem de lá. Pode ser, tem batatas, repolho, um pouquinho de carne (francês não faz churrasco), um ou outro pedaço de embutido. Mas receitas são folhas ao vento rabiscadas entre vizinhas, são palavras que voam, mudam de casa, transformam-se e transformam as mesas e as memórias por onde passam.

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a carne grita!

A televisão mostrou um carneiro sendo abatido em um programa de culinária. O animal, criado por um pequeno produtor, teve uma vida digna e foi sacrificado para se transformar em alimento. Assim como tantos outros animais que se transformam em hambúrgueres nas redes de fast food. Esses, no entanto, provavelmente viveram confinados, foram submetidos a condições cruéis, ficaram doentes e tiveram sua carne invadida por antibióticos, ácidos e conservantes. Tudo em nome de uma produção volumosa e lucrativa.

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pão e chão

Assisti a uma reportagem sobre o acampamento de refugiados em Calais, na França. Pessoas em situação extrema, altamente vulneráveis, sem direitos, sem lugar. Pessoas que querem apenas sobreviver, que constróem cabanas de lona e madeira e transformam em um lar - ainda que temporário - as poucas coisas conseguem juntar. Existe esperança para qualquer um que busque dignidade. Isso demonstra apreço pela vida, energia para preservar a humanidade fundamental.

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carnaval com tropeiro

Foi um Carnaval bem vivido. E bem comido. Belo Horizonte é uma cidade que trata bem as almas e estômagos. Comida mineira é comida que abraça, que aquece, que te faz sentir querido. E não tem nada a ver com os restaurantes mineiros fora de Minas, com comida pesada, um monte de bistecas gordurosas e torresmos cenográficos de isopor. Comida mineira tem verdurinha, bananinha, leguminho, tudo feito com capricho. E tudo no diminutivo, para combinar com o jeitinho doce e gentil do mineiro: linguicinha, costelinha, ovinho, mexidinho, canjiquinha. E como mineiro come também o final das palavras, fica ovimmexidimqueijimcafezimdocim.

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com tempero e com paixão

Toda comida nasceu para ser amada e tem seu lugar no coração. Salada, sopinha, chuchu, abobrinha. É só temperar com amor e carinho para que os sabores apareçam. O tempero não pode atropelar a essência de cada alimento. Ao contrário, deve despertar o melhor dele. Como em um namoro, há de se apaixonar pela pessoa, e apenas adicionar o necessário para que aquilo que a torna única se sobressaia. E é por isso, entre outras coisas, que temperos prontos não funcionam: cada alimento pede uma dose diferente disso ou daquilo, uma pitada a mais, um raminho, uma folha. Ervas, sal, pimenta, alho, cebola, açúcar, limão, azeite, vinagre, mel, mostarda, vinho… Folhas e legumes também temperam. Fantasias, situações inusitadas, olhares inesperados, músicas, risadas, duas taças. E que delícia um pedacinho de linguiça ou ricota defumada. E as frutas? Laranja, limão, romã, abacaxi. Mão na coxa, hálito quente na nuca, uma palavra no ouvido… Tanta coisa vira tempero! Não tem fim. Ainda bem.

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água de beber

No ano passado, eu resolvi mudar a forma como tomo água. Pode parecer bobagem, mas a gente toma água o dia inteiro, todos os dias da vida. Então, trata-se de uma decisão importante saber de onde vem e como chega a água que bebemos. Eu costumava comprar galões de 20 litros para o suporte que gelava a água. Um trambolho que nem cabia na minha cozinha. Os galões, mesmo sendo retornáveis, também pediam uma logística chata: ligar, receber o rapaz, trocar, pagar, tem que ser em dinheiro, sempre chega na pior hora possível. Fiz isso durante anos, porque achava que a água mineral era a mais saudável. E pode até ser que seja, mas o impacto do transporte, da embalagem e a energia consumida no processo todo são uma questão a se considerar, e é necessário avaliar se o benefício realmente vale a pena.

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